A hora mais negra

“Then out spake brave Horatius,
The Captain of the Gate:
To every man upon this earth
Death cometh soon or late.
And how can man die better
Than facing fearful odds,
For the ashes of his fathers,
And the temples of his gods”

― Thomas Babington Macaulay, Lays of Ancient Rome



Ainda esta semana voltámos a experimentar aquilo a que passei a chamar 'hora negra', depois de ver este filme.

Em contexto hospitalar, é uma hora de assinatura de consentimentos, de tomada de consciência de riscos, de decisões e de sofrimento. É, exactamente como a de Churchil, uma hora de iminência de guerra. O inimigo é microscópico e reproduz-se a grande velocidade pela via sanguínea, comprometendo todo o organismo. A decisão é "fight whatever the cost may be" ou será?

O soldado já leva alguns anos de batalha e isso nota-se.
Quantos mais anos lhe restarão? Se se pudesse quantificar como se quantificam os leucócitos... talvez pudéssemos fazer uma decisão mais informada. Mas a verdade é que não sabemos e vacilamos.

Esta semana enquanto vacilava no hall de entrada do piso de cirurgia pediátrica, procurava alguma coisa a que me agarrar. Encontrei esta reflexão de um aluno de medicina, ao lado de uma cronologia de todos os vencedores do Prémio Nobel da Paz. (Faltava lá Donald Trump.)

Li com gosto e empatia, mas não me serviu. Não me trouxe a paz por que ansiava.
Talvez porque a paz não é retórica. Perante o sofrimento daquele momento, senti a "dignidade possível"como uma imposição ou mais uma norma, como desinfetar as mãos.

"Por favor seja digno", diria um poster na ala dos Paliativos.

Não há sítio com mais normas que um Hospital. Todas rigorosíssimas, para controlo de infecção, de medicação, de alimentação. Em fases agudas até as fraldas são pesadas antes de se usarem, para serem pesadas de novo depois de usadas e quantificar-se cada grama de urina do doente.

- "Sr. Dr. quer que pese também a dignidade?".


O que me trouxe de novo alguma clareza, foi um email que eu própria escrevi noutra hora negra de há quatro anos atrás.

O nosso filho Pedro em 2014
na UCI Pediátricos

12-06-2014
Queridos amigos e família, 

As noites e manhãs têm sido difíceis com evidente desconforto e sofrimento para o Pedrinho, que tem sido tão difícil quanto marcante para nós. 
Da sua serenidade, totalmente entregue a quem dele cuida, irradia uma dignidade que impõe respeito!
Nestas alturas críticas, ele é o mestre que não vacila e nós os alunos; incertos, duvidosos, que desafiam a autoridade porque preferíamos estar noutro lugar a aprender uma outra lição.
Mas é aqui que estamos e o seu sacrifício silencioso é de Homem...







A Paz não está na tranquilidade de um fim, mas na firmeza de cada passo.
Em matéria de vida humana... "there shall not be a negociated peace!"
Diria Churchil, dirá Trump.
Diz o Pedro.


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