Com jeitinho e proibição põe-se fim à abstenção

ANA GARCIA MARQUES              WWW.APIPOCAMAISDOCE.PT          15.09.17


O próximo 1 de Outubro é dia de autárquicas e, segundo o Governo, temos o caldo entornado, porque há quatro jogos de futebol marcados para o mesmo dia, incluindo um clássico Sporting-Porto. Ao que parece, a bola é um dos grandes  causadores das elevadíssimas taxas de abstenção, por isso acabou-se a brincadeira: nas próximas eleições, sejam elas quais forem, não há cá jogatanas, o futebol fica proibido, que se o povão não aprende a bem, então aprende a mal. Ai não querem ir votar? Ai querem ficar com o cu no sofá a aviar minis e tremoços? Ai pensavam que iam ao estádio? Isso é que era bom, tudo à minha frente a ir votar, vamos embora. 

Não é tão bonito? Não tem assim uns laivos meio salazaristas tão agradáveis? Não dá assim aquela sensação de que nos estão a tratar como se fossemos todos altamente limitados? Tipo "ehhh, pá, espera lá que esta malta só consegue fazer uma coisa de cada vez, se vão ao futebol então não vão votar, está-se mesmo a ver, que apesar de um jogo só durar duas horas estes abusadores aproveitam logo para não fazer nada o resto do dia". Não, o problema não é as pessoas estarem completamente desacreditadas da política, o problema não é não se reverem minimamente em quem as representa, o problema não é a falta de educação cívica e política, o problema não é a falta de consciência sobre a importância do voto. O problema é o futebol, essa actividade encomendada por Satanás para nos desviar da nobre missão que é decidir os desígnios do país.


Sinceramente, estou com o Governo. E mandasse eu nesta merda e não era só o futebol que se proibia, meus meninos. Para já, nesse dia não havia televisão para ninguém, nada. A minha sugestão é que se cortem as ligações em dia de eleições, que já se sabe que o povo se pela por uma Casa dos Segredos, por um especial de oito horas do "Temos Festa" a partir de Castelo de Vide, ou por uma maratona daqueles programas em que se debatem arbitragens horas a fio. Em alternativa, todos os canais serão obrigados a passar, ininterruptamente, a mensagem "vão votar, seus burros". Eficaz, certo? A internet também estará em baixo, porque a capacidade que as pessoas têm para perder horas de vida a saltitar entre o Instragram e o Facebook é uma coisa inexplicável. Ignorantes que dá dó. Vão votar e depois logo vos será dada uma senha para poderem aceder à net durante trinta minutos.

Depois, acho que isto também implica aqui que se mexa no estado tempo. Proponho algumas alterações climáticas forçadas. A saber: em dia de eleições não pode estar demasiado calor (porque senão lá se põe tudo a caminho da Fonte da Telha, raisparta ao português que não pode ver um raio de sol que vai logo desfilar nos areais), nem demasiado frio (que isto são uns coninhas que se estão menos de 20 graus entram em hipotermia). A coisa estará feita de modo a termos um bonito tempo ameno e que seja do agrado da maioria da populaça.

Outro enorme flagelo são os centros comerciais. Ahhhh, muito gosta esta gentalha de se enfiar num Alegro desta vida a lamber montras. É que se ainda fizessem compras e ajudassem a economia nacional, mas não, andam só para ali a gastar soalho, uma despesa. Posto isto, centros comerciais fechados em dia de ir às urnas, que quando derem com a tromba na porta não têm outro remédio que não ir votar. Pelo caminho, aproveitamos a onda e decretamos já o fecho de cafés, restaurantes, cinemas, museus e hospitais. Sim, hospitais, que isto é gente que inventa de tudo só para não exercer o seu direito cívico, mais depressa preferem transplantar o fígado do que ir votar (e, claro, o Estado a arcar com a despesa). Estão a enfartar? Estão à beira de dar à luz? Caíram e têm uma rótula exposta? Paciência, ide votar e depois logo se vê. E primeiro temos de ver em quem é que votaram, para ver se o fizeram acertadamente. Depoooooois, talvez, se pedirem com jeitinho, vos deixemos dar um salto às urgências.

Poderíamos pensar que com TUDO fechado, a malta não teria outro remédio que não ir até ao seu centro de voto, mas até parece que não conhecem os portugueses, os reis das fugas e dos esquemas. Eram meninos para ficar em casa a dormir ou ir passear à beira-mar, muito gosta o povo de ir ver as ondas, para acalmar os nervos, devem achar que são o Gustavo Santos, ó caralho. Queriam! Tenho duas sugestões: ou a polícia se encarrega de escoltar cada cidadão votante até às urnas, com uma G3 devidamente apontada aos costados, ou então cada cidadão votante terá um taser amarrado ao lombo que lhe infligirá descargas eléctricas a cada, vá, sete minutos. Enquanto não for lá pôr a cruzinha aquilo não será desactivado, por isso é bom que se apresentem na mesa de voto logo pela fresquinha. E de cara alegre, não queremos cá ninguém com cara de frete ou a revirar os olhos, ou seremos obrigados a aviar-vos umas cacetadas nos dentes. Não que queiramos, é só mesmo em último recurso, mas se nos obrigarem não teremos outro remédio.

E pronto, penso que é isto, com jeitinho e proibição põe-se fim à abstenção. Não é um slogan bonito? Alguém que pegue nisto e use, que é demasiado bom para se perder por aqui. E agora atrevam-se a não ir votar. Atrevam-se.

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