Um renascentista

Público 20120712  Pedro Lomba


Depois de ler o parecer com que a Universidade Lusófona certificou a experiência profissional de Miguel Relvas, posso afirmar que estou mais descansado. O parecer que a Lusófona dedicou ao candidato Miguel Relvas concedeu-lhe equivalência a 32 das 36 cadeiras do curso de Ciência Política. Mas quem leia o parecer fica a pensar que há escassíssimas áreas das ciências humanas que Miguel Relvas actualmente não domine. O parecer não é por isso bem um parecer. Digamos, benignamente, que é o laudo científico de Miguel Relvas, que afinal sabe praticamente de tudo: política, história, sociologia, comunicação social, administração pública, gestão de empresas, marketing político e até "manejo linguístico". Relvas é um renascentista na política do século XXI. Nós não sabíamos, mas é a pura verdade.

Fiquei por isso mais sossegado. Fiquem vocês também. Temos um ministro que, fruto da sua experiência profissional resumida no exercício de cargos públicos, funções políticas e funções em "domínios empresariais" aprendeu "competências" e passou por "aprendizagens" de grande "diversidade". Compreende perfeitamente desde muito jovem os "quadros institucionais" e a "articulação institucional de organizações político-partidárias no Portugal democrático".

Este homem, o candidato, já em 2006 percebera plenamente a "ligação entre o fenómeno da politização da sociedade e a vida quotidiana". Prova disso é que Relvas, o candidato, adquiriu "competências transversais de compreensão do papel de diferentes classes sociais e elites na modelação da sociedade onde essas organizações actuam e se desenvolvem".

Não tenhamos dúvidas sobre as suas aptidões. Por exemplo, o facto de ter desempenhado cargos públicos após a entrada de Portugal na Europa permitiu que o candidato se tornasse versado em "direito" mas também em "socioeconomia da União Europeia". Aliás, podemos acrescentar que Relvas, como também exerceu funções públicas após a guerra do Vietname, é um profundo conhecedor da história dessa guerra e, como foi secretário de Estado das autarquias após a reforma de Mouzinho da Silveira, está já certificado em história da administração local.

Negociador nato, geo-estratega, destacou-se ainda pelo seu "profundo relacionamento com matérias do foro legal, administrativo e de análise política." Tão longe vai o saber de Relvas que, "para além das competências básicas ao nível da compreensão das organizações" e de "percepcionar o entrecruzamento, hoje inevitável, entre a esfera empresarial e a esfera político-partidária" - lembra e muito bem a Lusófona -, também dispõe de saberes e conhecimentos em "negociação, técnicas de apresentação, estudos de mercado e análise de dados económicos e sociais".

Aqui chegados, a dúvida maior é imaginar aquilo que Relvas não sabe. Porque, de facto, segundo o parecer da Lusófona, este ministro não parece ter pontos fracos. Bem, não sabemos se o seu inglês técnico é igual ao de Sócrates e é verdade que sempre precisou de fazer quatro cadeiras, por escrúpulo sem dúvida excessivo da Lusófona.

A Lusófona deu o seu parecer; agora o nosso. Senhor ministro: sabemos que nestas alturas há sempre free riders da responsabilização política, gente que o quer ver longe porque o senhor os ameaça. Mas peço-lhe: daqui para a frente ninguém irá dar um segundo de crédito ao que o senhor tem para dizer. Demita-se!

Comentários

Francisco Melo disse…
Concordo com tudo menos com o «demita-se». Não demita-se, não se defenda mais (já se defendeu e bem) e nem ligue, feche os ouvidos (ja falou muito) para toda essa coisa sem vergonha, é o meu conselho.
Como pessoa, não conheço o ministro, mas, independente disso, considero vergonhosa a perseguição que fazem contra ele. E tudo isso porque ousou praticar a heresia de blasfemar contra a intocável "deusa" liberdade de expressão de pensamento mediática, uma "deusa".
Actualmente, temos um governo que procura livrar Portugal dos vícios em que caiu, por isso está a ser atacado por todos os lados, pelos que querem manter os vícios.
Temos greves ideológicas. É a greve dos que estão empregados - é verdade, poderiam ganhar mais, se houvesse dinheiro para isso, sem precisar de ser o povo a pagar a conta, como tem sido o habitual neste país; deveriam os grevistas antes agradecer terem, nestes tempos maus, um emprego estável e salários em dia, praticamente garantidos e sem atrasos, em vez de fazerem greves imorais.
Temos o povo - os que estão desempregados, os que não sabem se amanhã ainda terão o emprego, os que até estão empregados, mas com salários atrasados e até atrasadíssimos: estes não fazem greve nem saiem na tv para fazer número na rua, um número regra geral manipulado - continuando a pagar a conta dos vícios, das irresponsabilidades e das corrupções.
É assim mesmo, quando DEUS está longe e reina a mentira e o mal.

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