A propósito da Fé

Maria da Conceição Carvalho

Creio que nada nos liga tanto uns aos outros como a Fé!
É da Fé que nasce a confiança com que nos movimentamos neste mundo variado e perigoso que é o nosso.
Tempo houve em que nascíamos e crescíamos  prontos a acreditar uns nos outros, até ao dia em que os mais velhos, conhecedores do mundo e das suas debilidades, nos insinuavam no espírito o receio do "desconhecido". Avisos que nos chegavam através de histórias infantis que nos ensinavam a fugir do lobo mau que nos apanhava sozinhos na floresta, da mulher que nos fazia mal através da oferta uma apetitosa maçã,  de uma série de pequenos perigos que tinham muito funestas consequências. Éramos ensinados a "desconfiar", a aprender que não podíamos ter fé em tudo.
 Hoje, identificados com os sobressaltos deste nosso mundo, jogos e histórias versam demasiadamente sobre acontecimentos de que a consciência está ausente. Tudo o que é possível no mundo virtual entra na esfera do conhecimento muito antes de que um mínimo de sabedoria que ajude a diferenciar o possível do humanamente aceitável.
Fé todos temos. Não seria possível viver sem ela! O que nos distingue não é o dom mas o grau de anuência e a perenidade do objecto em que a depositamos. É aí que reside a essencial diferença que estrutura e dá dimensão ao nosso viver.
Ser cristão é ver mais longe. É depositar a fé no Infinitamente Grande - deixamos à Ciência a preocupação com o infinitamente pequeno... -, é depositar a fé no tão grande que é incomensurável como percurso mas que tem a força imensa de nos chamar e atrair.
 Ser católico é acreditar num determinado caminho que não foi descoberto por nós mas que se fundamenta, sem interrupção, numa história que culminará no novo reino "que não terá fim", tal como Jesus nos prometeu. Creio ser nessa fé que reside a Esperança.
Sabemos - unicamente pela Fé - que o que está dentro de nós trouxe consigo a dimensão do Infinito, a inefável subtileza da Essência que transcende o que quer que seja que façamos, consigamos ou idealizemos. Uma sociedade que deposita a sua fé no "ter" - poder, dinheiro, estatuto, e o mais que se adquire - é uma sociedade mutilada: uma parte de si está morta.
Daí a pertinente chamada de atenção de Bento XVI para a necessidade de questionarmos a nossa fé e o "porquê" de a professarmos.
Ninguém nos pode obrigar a a ter Fé. O que acontece frequentemente é termos fé naqueles que nos falam da Fé e dos modos de a atingir e de a alimentar. Muitos de nós repetem como autómatos as verdades da Fé sem que se questionem sobre a grandeza e a perenidade dessas verdades. Só quando nos acontece algo que ultrapassa as nossas capacidades humanas nos apercebemos que afinal - apesar do que possamos sentir...- nada acaba ali, que há mais caminho e que para esse caminho, aberto por Jesus, confluem há mais de dois mil anos todos os nossos gestos de aceitação e maravilhamento pela força que dele emana e que nos chama à sua indefinível grandeza.
Não haverá decerto "crise" social alguma - malgrée as suas injustiças, as desilusões, as exigências de adaptação e do não reconhecimento de nós mesmos como seres que nascem de mãos abertas ao receber e ao dar  - que nos  iluda, ou ofusque de tal maneira o muito que a Existência nos oferece - e que é caminho! - que desbaratemos não apenas aquilo que Deus no legou, como a oportunidade de caminharmos em paz para onde a grandeza da nossa alma nos levar.
É essencial, para nossa felicidade, que acreditemos nisto. Há que ter fé na Fé!
Afinal, a nossa Pátria é o Céu!

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