Pela nossa saúde

DN 2012-07-15
Paulo Baldaia

Pela nossa saúde, o ministro Paulo Macedo tem feito o melhor que sabe fazer em defesa da sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde, no que ele comporta de público e privado. É um profissional de méritos reconhecidos em várias áreas e não se lhe conhecem ódios de estimação. Não é por embirração com os médicos, enfermeiros, farmacêuticas, farmácias e laboratórios que vem trabalhando para lhes reduzir as receitas. É por imposição de um programa de austeridade que procura diminuir as despesas dos contribuintes que são, afinal, os financiadores dos cuidados de saúde que o Estado garante a todos os cidadãos.
Dito isto, e sabendo de antemão que a maioria dos profissionais de saúde e os militantes das oposições deixarão de atender aos argumentos que forem apresentados, convém recordar aos contribuintes de que é que estamos a falar. É que sendo legítima a luta dos profissionais de saúde ela não deve ser inquestionável.
Na primeira década do século em que vivemos a despesa com a saúde praticamente duplicou face à década anterior, o que significa que cerca de 10% de toda a riqueza que somos capazes de criar num ano é gasta neste sector. São números que cito de memória como na memória tenho bem fresca a imagem de muita gente feliz com o que ganhava no grande crescimento do sector. Farmácias que eram trespassadas por milhões. Farmacêuticas que tinham margens de lucro suficientes para poderem esperar anos pelos pagamentos. Laboratórios privados que faziam negócios milionários com os hospitais públicos. Médicos com emprego garantido e vencimentos bem acima da média nacional.
Ainda assim, podemos todos achar que o ministro da Saúde não está a cuidar dos nossos interesses e exigir-lhe que volte a deixar tudo como estava. Mas vamos ter de abrir os cordões à bolsa e pagar mais impostos, porque o que pagamos não chega para deixar tudo na mesma. Se não queremos pagar mais, então é preciso cortar muitas centenas de milhões de euros para que as contas batam certo. E aí... alguém vai ter de ganhar menos.
Mas não chega cortar, é preciso garantir qualidade. Não quero remar apenas contra os que fazem da saúde um negócio milionário, arrisco a meter-me também com os portugueses privilegiados. Aqueles que ganham mais de 3 ou 4 mil euros limpos, e que têm seguros de saúde privados, deveriam pagar muito mais quando utilizam os hospitais públicos. Não serve de desculpa o pagamento de impostos já ser feito de forma progressiva. A solidariedade não pode ter um tecto onde a nossa consciência bate e se tranquiliza. Numa área como a da Saúde, deveria existir uma taxa de solidariedade para que os que mais têm garantam que ninguém fica fora do sistema. Eu estou disposto a pagar.
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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