O professor que gostaria de ter sido apóstolo

Morreu o contador da história de Portugal
José Hermano Saraiva morreu esta sexta-feira, aos 92 anos. Admirador confesso de Salazar, criticou muito a política e lamentava viver num país que "entre o Natal e o aborto" tinha escolhido a segunda hipótese.

RR on-line 20-07-2012 16:45 por Filipe d’Avillez

É reconhecido como historiador, o que não deixa de ser justo, uma vez que mais que ninguém popularizou a História. Mas a grande paixão de José Hermano Saraiva, que morreu esta sexta-feira, era a educação e era por esse prisma, de serviço educativo, que via as suas intervenções. 
Filho de um pastor que subiu na vida pela sua própria mão e que chegou a ser reitor de um liceu, José Hermano Saraiva aprendeu a ler ao colo dos pais e recorda-se que o primeiro livro que leu, nem de propósito, foi “História Universal”, de César Cantu. 
O seu gosto pela educação era inversamente proporcional ao desprezo pela ignorância. Por ela, culpava o ensino actual: “Há vários anos, quiseram expulsar os actos da História. O resultado é uma quimera que só tem tido efeitos negativos. Um deles é a ignorância que grassa por aí ao mais alto nível, até entre professores universitários”, disse certa vez em entrevista à revista do "Correio da Manhã". 
Essa revolta manifestava-se sobretudo pela actividade que, segundo José Hermano Saraiva, era a única para a qual a ignorância era um atributo de sucesso: “A nossa escola continua a produzir pessoas que não sabem fazer nada. A única profissão em que se pode chegar muito alto sem saber fazer nada é a política”, disse na mesma entrevista. 
O historiador e professor não gostava de falar de política, mas falava muito. Nunca deixou de defender Salazar, a quem serviu enquanto ministro da Educação durante o Estado Novo. Chamou “pobre diabo” ao então primeiro-ministro Cavaco Silva quando lhe pediram para o comparar a Salazar, o que lhe valeu um corte de relações com o actual Presidente da República. Mais tarde retractou-se, definindo-o como um "honesto gerente". 
A ditadura, a encruzilhada do Natal e o desejo de ser apóstolo
Quando o tema era o presidente do conselho de ministros, ninguém o demovia: “Há facto sobre Salazar que ninguém contesta. Nasceu pobre, aos 20 anos era professor catedrático, livrou-nos da II Guerra Mundial, governou durante 50 anos e morreu pobre”. De forma mais polémica, constatou que “foi o único caso de uma ditadura em que não houve um morto”. 
Noutra altura, numa entrevista à "Focus", aproveitou a figura de Salazar para criticar a cena política actual: “Milhões de portugueses estiveram com esse homem, à excepção de uma pequena minoria. Salazar não era como estes de agora, que se encarrapitam todos para lá estar meia dúzia de meses. Ele não era nada democrata. A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Alguém acredita nisto? Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam. Quanto mais tempo passa, mais admiro Salazar”. 
A política actual, acreditava, limitava-se a pôr “meio país a injuriar o outro meio” e nada faz para avançar as necessidades de uma pátria que amava, mas cuja letargia lamentava e no qual identificava um percurso suicida: “A população portuguesa está a diminuir rapidamente, as escolas estão a fechar, as mães demitiram-se de o ser e o aborto tem um amplo sector da opinião a apoiá-lo. É a solução do não nascer. Na encruzilhada, este país tem que escolher decididamente entre o Natal e o aborto”, disse em entrevista ao jornal "O Diabo".
Se lhe tivesse sido dado a escolher, teria vivido noutro tempo ainda e noutro lugar, como fica claro numa entrevista ao "Correio da Manhã", publicada em 2007: "Gostava de ser sido apóstolo, companheiro de Jesus Cristo".

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