Do infinito valor da esperança

José Luís Nunes Martins, i-online  21 Jul 2012
·         Só quem acredita no quase impossível sabe viver. A existência humana quando autêntica paira no intervalo estreito entre a fé e o desgosto, sempre com poucas certezas e muitas dúvidas.
A esperança resulta de um acordo entre o pensar e o sentir. Um equilíbrio harmonioso entre a pureza da emoção pura e a lógica da certeza.
É a suave esperança de quem acredita num eu melhor, e num mundo mais belo, que insufla a vida... Não são os repentes dos que, de súbito, querem fazer tudo; nem os impulsos tão brutos, quanto efémeros, dos que sem paciência ou prudência querem que o mundo se ajoelhe para lhes agradar.
O desconforto das dúvidas vai solidificando os desesperos que impelem às pressas, que adiam sempre o que se espera.
As boas esperanças são abraçadas pela tristeza. Há lágrimas que caem celebrando a existência de uma sensibilidade, frágil, mas suficientemente forte para seguir em frente, apesar de tudo. Os olhos que choram são os mesmos que sorriem. Há tempo para sentir tudo e só quem desconhece por completo a essência da vida quer erradicar a tristeza do seu íntimo, como se ela não fosse a alma e a luz da alegria mais verdadeira.
Qualquer espera dói. Porque se experimenta a falta do que não está, e porque por vezes se percebe que depois de se ter alcançado o que se espera haverá perda, entrando-se num estado onde a recordação do bom provocará angústia. Dessa forma, ainda antes de alcançado o objectivo, já se consegue pressentir a inquietação de ter perdido o que ainda nem sequer chegou. Mas há sempre futuro. Sempre. Mesmo quando não há esperança, há futuro...
A esperança ilumina com luz tranquila. Esbatendo as sombras no interior de quem sabe que há muito mundo que não depende da sua vontade. É preciso ser capaz de viver na esperança mais do que chamá-la a viver dentro de nós. As obras necessárias à construção das esperanças devem ser feitas pelo esforço de quem nelas vive.
As esperanças, quanto mais profundas são, mais suaves e fortes se tornam. Estas delicadas formas de ser são certezas, porque contêm em si a garantia absoluta do que prometem. São pedaços ínfimos do futuro ainda por vir. Não são agitações de superfície.
Há muitas ilusões, fraudes e fantasias. Saber distingui-las das esperanças é um dos pilares da sabedoria. Ter esperança é bem mais fácil do que acreditar nela, porque quem acredita verdadeiramente aposta a vida – e a morte – sabendo que nada faz sentido sem uma entrega completa. Esperando, mesmo contra todas as probabilidades.
Pobre é aquele que nunca esperou por nada, muito mais até do que quem, na esperança, passou todo o seu tempo à espera.
Mas também há esperanças que morrem, lentamente, da forma mais agonizante possível. Arrastando demoradamente para as trevas os que nelas vivem. É tragédia, inferno, mágoa lenta... até ao mais completo vazio. E enquanto não se revelar uma nova, cabe ao homem suportar uma existência praticamente sem sentido, porque se há coisa pela qual não se consegue esperar é pela esperança.
O homem vive privado dos bens que ardentemente deseja e que julga merecer. Esta tensão confiante, pela expectativa e pelo esforço, acabará de uma de duas formas: ou pela chegada do que esperamos ou pela partida do que nos fazia esperar.
A existência da esperança é, em si, um dom. Cabe, pois, a cada homem por de lado o orgulho e encher-se de humildade a fim de ser digno de a habitar.
Cada esperança abre horizontes infinitos e possibilidades imprevistas. O futuro é absolutamente aberto. Sempre. Construído pelas mãos dos que o sabem esperar.
Investigador

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