Pedintes

DESTAK |18 | 04 | 2012   21.23H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt

Nos últimos anos deu-se um fenómeno notável, pelo menos em Lisboa: desapareceram os pedintes portugueses das zonas tradicionais. À porta das igrejas, nos locais mais concorridos da cidade continua a haver muitos mendigos, mas não são portugueses. Falando com eles nota-se que são sobretudo búlgaros e parecem ter relações familiares. Os antigos pobres lusitanos desapareceram.
Existem duas explicações possíveis para o fenómeno. A primeira é que os portugueses necessitados tenham melhorado a sua situação, por ganho económico ou ajuda do Estado, deixando assim o campo livre aos estrangeiros. Penso que ninguém sensato poderá acreditar nesta alternativa. Assim, a única justificação razoável é que os lugares tenham sido conquistados à força por um grupo organizado, tendo os anteriores utilizadores sido expulsos.
Há séculos que nas cidades existe uma luta surda pela ocupação dos melhores locais de mendicância, sendo estes controlados pelos pedintes mais fortes e influentes. Até a este nível os fracos são os que mais sofrem. Mas é raro registar-se uma transformação tão súbita e radical. Certamente que uma invasão desta dimensão teve de usar ameaças credíveis, brutais até, para se impor de forma tão esmagadora. Uma simples observação atenta consegue até identificar os líderes e técnicas de domínio. Se esta interpretação é verdadeira, então podemos dizer que as classes miseráveis da cidade de Lisboa, estão entre as que mais perderam com o alargamento da Europa a Leste. Mas a questão mais premente é saber onde estão os pedintes portugueses.

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